Sufjan Stevens e Matthew Herbert
Está ai o novo álbum do norte americano
Sufjan Stevens, que desta vez nos convida a conhecer o estado de Illinoise, conhecer os seus habitantes e descobrirmos os seus hábitos, sejam eles simples, complexos, extravagantes, bonitos, vulgares ou simplesmente idiotas. A música e as palavras raramente separam-se, a composição tem a capacidade de surpreender o ouvinte, as orquestrações provocam arrepios de prazer... no fundo a produção é surpreendente e resultado final só podia ser um dos melhores álbuns pop-folk dos últimos tempos. A premissa de Sufjan é simples: conhecer os estados norte americanos, assimilar os mais pequenos pormenores e converter toda a informação recolhida no terreno em palavras e música a condizer. Sufjan é um song writer caixeiro-viajante que assimila tudo o que vê e sente, seja cultura urbana -e todos os seus aspectos mais decadentes- como consegue vibrar com a mais parola simplicidade da vida no campo, ele ama, canta, chora, pensa, abstrai-se e sonha... é humano e não tem problema em enriquecer a sua música com a sua experiência de vida. Illinoise, apesar da aparente simplicidade, é um exercício de paciência para quem o ouve, as orquestrações são exuberantes e muitas vezes contrastam com com a simplicidade de outros temas erguidos com uma guitarra e um banjo; as letras muitas das vezes têm um duplo significado e confundem -o ouvinte tem um papel interveniente: descodificar as letras!- fazendo com que tudo resulte num trabalho em que simples nem sempre seja a palavra correcta para descrever esta viagem de 70 minutos pelo coração da América. Illinoise é, indiscutivelmente, um momento alto não só da Pop como do ano de 2005!
Vejam só quem serve a ementa:
Matthew Herbert. É o regresso de um dos produtores mais importantes, mais influentes e talentosos da actualidade e desta vez o ponto de partida da acção é... a comida!! Ele já andou as voltas com a house -"100Ib", "Arround the House"-, pela electrónica experimental -Radioboy-, explorou os sons do corpo -como consequência recebemos em 2001 um dos álbuns mais importantes da década: "Bodily Functions"- já construiu diários sonoros -Doctor Rockit- e, como sempre demonstrou fascínio pelas Big Bands, teve de ter a sua Matthew Herbert Big Band. Como produtor revela ter ambição, orientação (política ou filosófica) e capacidade de organização sonora suficiente para se lançar à experiência e manipular a matéria prima como bem entende (sejam instrumentos ou sons banais captados na rua ou no estúdio), como é o caso, uma vez mais, do seu mais recente trabalho de originais: Plat du Jour. A comida e a indústria alimentar são desta vez o alvo das atenções: para além do sentido político que Herbert aparentemente atribui aos títulos das músicas, os sons de alimentos -ou sons do campo- são manipulados vezes sem conta até surgir uma cadência ou uma melodia, havendo pelo meio um intervalo na refeição chamado "Celebrity" que, aparentemente nada tem a ver com a restante ementa, surge como uma crítica mordaz às vedetas que expõem-se compulsivamente aos media... A música -quando assim se pode chamar- é de difícil assimilação, apesar do conceptualismo, a "calda" aqui contida é claramente diferente de outros trabalhos de Herbert e o brilho é visivelmente menor. A capacidade de organização sonora de Herbert continua intacta mas o resultado final deixa nos ligeiramente desiludidos e a pensar no estilo de produção prodigioso de "Bodily Functions" ou "Goodbye Swingtime", que aqui simplesmente não existe... Apesar de tudo, ainda há aqui muita matéria de estudo para muitos produtores-aprendizes e pormenores suficientemente interessantes de serem ouvidos por todos os amantes de música eletrônica.