STEVE SPACEK "SPACE SHIFT"
Los Angeles parece ser o sítio certo para se estar neste momento, pelo menos deve ter sido esse o raciocínio de Steve Spacek, o inconfundível vocalista do projecto Spacek, que agora se lança a solo. Há muito que o cantor procurava a oportunidade de trabalhar sozinho, de decidir sem ter a obrigação de consultar quem quer que seja e "Space Shift" reflec
te não só a solidão mas também a luz de um novo caminho -e possivelmente uma nova clarividência na sua vida.
Steve prossegue a sua caminhada solitária de introspecção, iniciada em Londres com Morgan Zarate (que colabora em "3 Hours Of Fun") e Edmund Cavill, e sem se afastar muito da sonoridade minimalista e sincopada que caracteriza a música que suporta a sua voz, incorpora agora algumas tendências do hip-hop norte americano. A Soul continua a ser o ponto de partida, mas recentes colaborações com gente como GB, J-Dilla, SA-RA Creative Partners (ou até mesmo os Platinum Pied Pipers) parece ter aberto os horizontes de Steve tanto como produtor e compositor, bem como vocalista, aprendendo a explorar a sua voz e projecta-la para um nível onde o sentimento necessita de ser expressado.
A capacidade de Steve organizar o espaço e o tempo parecem manter-se. Nesta música o silêncio parece operar como qualquer outra nota, abrindo espaço para a voz e obrigando o tempo a maleabilizar-se em redor dos sons -e consequentemente sincopar esses mesmos sons. Apesar da estrutura rítmica muito geométrica e do minimalismo melódico, alma não falta: a eloquência da voz de Steve -como a de Marvin Gaye ou Curtis Mayfield no passado- trás o calor, o charme e as supremas palpitações de vida enquanto se revelam os sentimentos mais íntimos... Intimidade essa que Steve Spacek não receia exprimir.
Tal como em "Curvatia" de 2001 ou "Vintage Hi-Tech" de 2003, deparamos-nos, uma vez mais, com o dilema: Soul futurista ou a Soul do futuro? O debate continua.