SOFA SURFERS "SOFA SURFERS"
“The Red Album”? Ou um álbum sim
plesmente intitulado "Sofa Surfers"? Dúvidas poderão surgir nos próximos tempos sobre o título do mais recente registo de originais dos austríacos Sofa Surfers. Isto se ficarmos pela discussão sobre o título e capa do disco, porque o conteúdo levantará muitas reticencias a muitos “consumidores” que desde os meados de 90 se familiarizaram com o som de Viena ou com o som caracteristico dos Sofa Surfers.
Depois de três álbuns complexos, ruidosos, robustos e sujos, construídos em torno dos efeitos narcótico do Dub e ritmos estruturados em premissas Hip-Hop, o projecto de Viena decidiu procurar novos pontos de partida e dessa forma encontrar novos pontos de chegada. No seu som tumultuoso sempre encontramos algum fascínio pelo Rock industrial, sujo e perturbado, e, no caso de “Encounters”, uma nova obsessão: a Soul. Talvez, e volvidos três anos e meio em que o projecto esteve parado (em que alguns elementos se dedicaram a projectos individuais) tenha surgido a vontade de dar uma volta de 90 graus à sonoridade única dos Sofa Surfers.
Ao quarto álbum, Wolfgang Schlögl, Markus Kienzl, Michael Holzgruber e Wolfgang Frisch (parece que existe um quinto elemento: Timo Novotny), decidiram arrumar boa parte dos computadores, depurar o seu som e reduzi-lo a uma estrutura mais básica.
Agora surgem canções sustentadas apenas por sons de bateria, guitarra e baixo. O espaço sonoro tornou-se mais amplo, permitindo ao ouvinte respirar onde antes o ar era rarefeito -e onde imperava a claustrofobia deparamos-nos agora com um lugar mais arejado e um ambiente mais evolvente. O projecto ganha maior transparência tornando-se numa banda que consegue realizar em palco, com maior simplicidade, o que agora editou em estúdio.
Apesar da transformação, existem ainda marcas que nos permite identificar esta música com a que antes era praticada. Ocasionalmente surgem os baixos robustos, os ritmos da bateria marcam uma cadência forte (e bem demarcada) e a melancolia continua instalada.
Ao convidarem o cantor, dançarino e coreógrafo Mani Obya a dar voz a todos os temas, os Sofa S
urfers pretenderam criar uma uniformidade vocal a toda a estrutura sonora do álbum, sobrepondo uma voz com claras inspirações na Soul sobre um manto de influxo pós-rock.
Como diria o próprio Wolfgang Schlögl durante as gravações: “like a hardcore band after the noise has abated“. Quase que uma bonanza depois da tempestade...
Apesar de tudo, a música dos Sofa Surfers parece continuar a viver na terra de ninguém, onde colar rótulos torna-se uma tarefa ingrata e onde os senhores das nomenclaturas cometerão muitos erros... Por isso mesmo, esta musica feita por estes senhores continuará sempre afastada de lugares comuns e continuará a ser única. Continuará também a ser ambígua, sem se saber se é música de sofá para dias de evidente sabatismo ou música capaz de invadir salas de espectáculo. Certo é que é envolvente e provavelmente terá espaço para qualquer sitio, apesar de estar num espaço que não é sitio nenhum...