LINDSTROM & PRINS THOMAS
Ocasionalmente surgem personagens que nos renovam o gosto pela descoberta da musica. Entidades com dom e clarividência suficientes para nos despertar a alma para o que ciclicamente vai desaparecendo: a luz e a verdade interior. Aquela força que nos provoca, que nos instiga e nos obriga a escutar a mensagem seja ela qual for, mesmo que fiquemos indiferente à sua proveniencia ou nomenclatura.
Já há algum tempo que andava atento ao trabalho de remistura destes senhores: Lindstrom e Prins Thomas. Tanto em conjunto ou em separado. O som mexeu comigo nas primeiras escutas e naturalmente a curiosidade foi aumentando. Na arte da transformação das matérias primas –os originais-, estão num patamar como uns Kruder& Dorfmeister ou Jazzanova, transfigurando, moldando, convertendo os sons de outros em arte própria, personalizada e com alma. Basta escutar as remisturas da dupla norueguesa para "The Weding" de Annie no recente DJ Kicks, "Tito’s Way" de The Juan McClean, "Down Till 7" dos Silver City" ou ainda os surpreendentes "Sweet Cow" dos Chiken Lips , "Tribulations" dos LCD Soundsystem, revistos por Lindstrom ou "Secret Pillow" dos Bermuda Triangle revisto por Prins Thomas, para perceber como é refrescante o espírito e o talento desta dupla.
Como em qualquer projecto em que a principal actividade acenta na remistura, surge o dilema dos originais ou um trabalho de longa duração –como é o caso da eterna espera do álbum de originais da mítica dupla de Viena-, mas este par de noruegueses não teve qualquer problema em erguer um quadro de 13 temas, aproveitando o momento de inspiração divina que atravessam.
O álbum de estreia pode não ser o facto estético do ano, mas não anda muito longe e talvez por isso tem estado a despertar tanta atenção. Atenção merecida, porque se há pouco escrevia que estes senhores nos despertam a alma para uma verdade interior é porque certamente o que nos têm para mostrar é muito bom. A promiscuidade vive nesta música, os ritmos do disco-sound co-habitam com os baixos poderosos do punk-funk, as melodias retro tipo Jean Michelle Jarre parecem co-existir no mesmo espaço com o dub ou com inspirações vindas de África. O delírio está pois então instalado quando os ritmos nos levam a um suave pé de dança ou a calmaria deixa-nos anestesiados com prazer.
A única verdade, e também a mais verdadeira, -perdoem a redundância-, é quando a especulação é a única certeza que esta música transporta consigo, e apesar da promiscuidade que poucos sabem explorar em beneficio da arte, o gosto de partir à descoberta de novas convicções, parece ser o que motiva estes senhores, que nos deixam um marco em 2005.
Uns poderão perder tempo a catalogar esta música e procurar referências aqui ou ali, procurando dissecar este som, eu sinceramente prefiro contemplar a verdade diante de mim....
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