KANYE WEST "LATE REGISTRATION" Volvido pouco mais de um ano sobre a edição de "The College Dropout", e uma série de colaborações pelo meio -como por exemplo a produção de discos de John Legend e o recente "Be" de Common- Kanye West, o menino bonito do Hip-Hop norte-americano, está de regresso com o segundo registo de originais. Não é por acaso que é um dos produtores mais requisitados do momento: talento não lhe falta! Kanye tem ritmo tanto nos beats como nas palavras; ele "solta" a língua com rimas num estilo caustico, irónico e divertido, onde não é difícil percebemos os alvos escolhidos: a degradada sociedade urbana e a indústria musical -onde, curiosamente, ele insere-se. Ele satiriza o negócio da música e a vida esplendorosa e fútil de muitos intervenientes que procuram não a arte das rimas sobre os beats mas os dólares sobre carros de luxo ("Diamonds from Sierra Lione"). O olhar crítico sobre a sociedade é frequente e algumas letras estão longe da pacificidade, mas é a verdade que faz movimentar o prodigioso produtor. Recorrendo ao seu lado mais espiritual, consegue controlar na maioria das vezes o ímpeto mais agressivo, vindo á superfície um menino de coro capaz de reconhecer a educação que teve em casa com os seus pais, as amizades lá do bairro, a inspiração dominical do Gospel ou simplesmente demonstrar amor num aveludado Soul. A capacidade de West em expor a sua verdade e as suas convicções mais profundas, torna-o num mago criativo onde a poesia urbana transcende a mediocridade de outros que apenas pretendem enriquecer a reboque do género: ora expondo o vazio de ideias tanto na escrita da palavra -hinos ao vácuo- como desprezando a escrita musical -técnica da imitação-, ora procurando conflictos que tragam mediatismo e consequente auto-promoção. Boa parte da produção Hip-Hop ou R&B norte americano do momento renega a componente espiritual que tanto caracteriza a matriz sonora da música negra tradicional, expondo naturalmente fragilidades na componente criativa...
"Late Registration" não é o virar de página, mas sim o parágrafo seguinte. Um parágrafo que revela maturidade na escrita e uma capacidade de organização sonora eloquente, onde tanto as colaborações enriquecem a música, como o sampler mantém o papel de organizador estético de elementos recuperados do passado. A música de West mantém a vontade de não só respeitar o legado cultural negro, mas também procurar soluções que evitem que o Hip-Hop perca a componente espiritual e entre no guetto onde o vácuo criativo co-habite com o som das armas e da ignorância. Este segundo registo continua com uma produção irrepreensível. Desta vez, além do seu papel de produtor -senhor do seu próprio som-, West recorreu à ajuda de Jon Brion, co-produtor caucasiano que, segundo alguns críticos, foi contratado para atribuir ao som de "Late Registration" elementos capazes de seduzir um público branco arredado do estilo Hip-Hop de gente como 50 Cent ou The Game. Temos, portanto em mãos mais um álbum Hip-Hop onde -e à semelhança de "Be" de Common- a música e palavra voltam a rimar com arte e onde o carismático Kanye West demonstra aos seus congéneres que talento e personalidade são elementos essenciais para criar uma obra personalizada com qualidade suficiente fascinar tanto homem como mulher, branco ou negro independentemente da faixa etária. O Hip-Hop enquanto arte de expressão urbana, não é um veículo de enriquecimento de carteiras , mas sim um veículo transportador de verdade interior capaz de iluminar mentes em busca de inspiração para a vida...
JOSÉ GONZALEZ " VENEER" A simplicidade parece ser muitas das vezes a solução... despir a música, deixando a nu apenas a voz e a guitarra e depois dar alma, muita alma... envolvermos-nos com música, explorar o íntimo, o lado mais profundo daquilo na realidade somos e concluir que, afinal,
também há sensibilidade para sentir o pulsar da vida para lá dos deveres do quotidiano.
Não serão as repostas que justificam a existência -a nossa ou do mundo-, mas de olhos fechados poderemos imaginar a essência... Os temas de "Veneer" sensibilizam e deleitam quem deixe-se levar pelo dedilhar da guitarra e pela voz bucólica de José Gonzalez, músico sueco com descendências sul-americanas que tanto põe a nu o calor e o gosto pela vida que
lhe corre nas veias latinas, como deixa-se envolver na melancolia que frio do norte da Europa lhe provoca... dois lados opostos na mesma folha...
O formato Folk outonal de José não revoluciona o que que seja, mas muitas das vezes não necessitamos de ser reaccionários para fazer valer a nossa mensagem e deixarmos-nos envolver pela sensibilidade de uma música que procura embalar a alma nas noites frias que se avisinham...
DEVENDRA BANHART "CRIPPLE CROW""Banhart adoptou uma abordagem comunal e neo-hippie da folk, o que para todos os efeitos vai ao encontro da tradição social da mesma. Quando não organiza compilações, como foi o caso de "Golden Apples of the Sun", junta nos seus projectos uma mão-cheia de colaboradores, de tal maneira que os trabalhos em seu nome já não lhe são exclusivos. É o que acontece com "Cripple Crow", em cuja capa, aliás, o encontramos misturado com uma multidão de gente - lá está ele, com a sua barba à guru indiano e os braços abertos, assumindo a
persona do corvo aleijado de que se fala no título. Na foto estão os seus amigos músicos, que apenas identifica carinhosamente como "the family" - uma referência é a "cover art" de "The Hangman's Beautiful Daughter", da Incredible String Band, outra o clássico "Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band", dos Beatles, tema, aliás, da canção "The Beatles". Muitos desses amigos são índios ou têm sangue nativo, ou não estivesse o trovador a proceder a um regresso à matriz da América, buscando uma origem que ultrapassa a sua própria linhagem étnica. Ainda assim, alguns temas são cantados em Espanhol, o que se explica pelo facto de Devendra Banhart ter passado a infância na Venezuela. No estúdio, estiveram com ele Andy Cabic (Vetiver), Noah Georgeson, Thom Monohan e membros dos Currituck Co, dos Espers, dos Yume Bitsu, dos The Blow, dos Feathers e das CocoRosie. Para quem se identifica como cantor folk e anda com companhias destas (as ocoRosie, por exemplo, são uma estranha mistura de new folk e hip-hop/soul, cantados à maneira de Billie Holliday), surpreende o pendor rock psicadélico do álbum. Muito retro, por sinal, remetendo-nos para os anos 1960 e 70, inclusive com o surgimento aqui ou ali de um sitar. Devendra não mudou propriamente de rumo, alargou foi o seu plano de visão. Gostamos das consequências." In ANANANA 23-09-05
http://www.ananana.pt/ www.younggodrecords.com/Artists/DevendraBanhart www.xlrecordings.com/devendrabanhart DJ SHADOW "ENTRODUCING....." (DELUXE EDITION 2005 - ISLAND) (ED. ORIGINAL 1996 - MO-WAX) A reedição de um dos discos mais importantes e estimulantes de sempre do Hip Hop. A manipulação sonora com o recurso ao sampler e ao turntabilism que hoje em dia já é considerado uma escola. Nu-school vs Old-school envolto por um manto melodioso abstracto... Um clássico!
www.djshadow.comVÁRIOS ARTISTAS "KEEPINTIME: A LIVE RECORDING" DVD/CD Um documento visual e sonoro impressionante
que retrata uma experiência única que une velhos bateristas à mais recente geração de Dj. Um conjunto de Jam Sessions onde se cruza a sabedoria de drummer's e a habilidade do Turntablism actual...
http://www.ninjatune.net/http://www.keepintime.com/