Thursday, December 01, 2005
 
KANYE WEST "LATE REGISTRATION"
Volvido pouco mais de um ano sobre a edição de "The College Dropout", e uma série de colaborações pelo meio -como por exemplo a produção de discos de John Legend e o recente "Be" de Common- Kanye West, o menino bonito do Hip-Hop norte-americano, está de regresso com o segundo registo de originais. Não é por acaso que é um dos produtores mais requisitados do momento: talento não lhe falta! Kanye tem ritmo tanto nos beats como nas palavras; ele "solta" a língua com rimas num estilo caustico, irónico e divertido, onde não é difícil percebemos os alvos escolhidos: a degradada sociedade urbana e a indústria musical -onde, curiosamente, ele insere-se. Ele satiriza o negócio da música e a vida esplendorosa e fútil de muitos intervenientes que procuram não a arte das rimas sobre os beats mas os dólares sobre carros de luxo ("Diamonds from Sierra Lione"). O olhar crítico sobre a sociedade é frequente e algumas letras estão longe da pacificidade, mas é a verdade que faz movimentar o prodigioso produtor. Recorrendo ao seu lado mais espiritual, consegue controlar na maioria das vezes o ímpeto mais agressivo, vindo á superfície um menino de coro capaz de reconhecer a educação que teve em casa com os seus pais, as amizades lá do bairro, a inspiração dominical do Gospel ou simplesmente demonstrar amor num aveludado Soul. A capacidade de West em expor a sua verdade e as suas convicções mais profundas, torna-o num mago criativo onde a poesia urbana transcende a mediocridade de outros que apenas pretendem enriquecer a reboque do género: ora expondo o vazio de ideias tanto na escrita da palavra -hinos ao vácuo- como desprezando a escrita musical -técnica da imitação-, ora procurando conflictos que tragam mediatismo e consequente auto-promoção. Boa parte da produção Hip-Hop ou R&B norte americano do momento renega a componente espiritual que tanto caracteriza a matriz sonora da música negra tradicional, expondo naturalmente fragilidades na componente criativa... "Late Registration" não é o virar de página, mas sim o parágrafo seguinte. Um parágrafo que revela maturidade na escrita e uma capacidade de organização sonora eloquente, onde tanto as colaborações enriquecem a música, como o sampler mantém o papel de organizador estético de elementos recuperados do passado. A música de West mantém a vontade de não só respeitar o legado cultural negro, mas também procurar soluções que evitem que o Hip-Hop perca a componente espiritual e entre no guetto onde o vácuo criativo co-habite com o som das armas e da ignorância. Este segundo registo continua com uma produção irrepreensível. Desta vez, além do seu papel de produtor -senhor do seu próprio som-, West recorreu à ajuda de Jon Brion, co-produtor caucasiano que, segundo alguns críticos, foi contratado para atribuir ao som de "Late Registration" elementos capazes de seduzir um público branco arredado do estilo Hip-Hop de gente como 50 Cent ou The Game. Temos, portanto em mãos mais um álbum Hip-Hop onde -e à semelhança de "Be" de Common- a música e palavra voltam a rimar com arte e onde o carismático Kanye West demonstra aos seus congéneres que talento e personalidade são elementos essenciais para criar uma obra personalizada com qualidade suficiente fascinar tanto homem como mulher, branco ou negro independentemente da faixa etária. O Hip-Hop enquanto arte de expressão urbana, não é um veículo de enriquecimento de carteiras , mas sim um veículo transportador de verdade interior capaz de iluminar mentes em busca de inspiração para a vida...

JOSÉ GONZALEZ " VENEER"
A simplicidade parece ser muitas das vezes a solução... despir a música, deixando a nu apenas a voz e a guitarra e depois dar alma, muita alma... envolvermos-nos com música, explorar o íntimo, o lado mais profundo daquilo na realidade somos e concluir que, afinal, também há sensibilidade para sentir o pulsar da vida para lá dos deveres do quotidiano.
Não serão as repostas que justificam a existência -a nossa ou do mundo-, mas de olhos fechados poderemos imaginar a essência... Os temas de "Veneer" sensibilizam e deleitam quem deixe-se levar pelo dedilhar da guitarra e pela voz bucólica de José Gonzalez, músico sueco com descendências sul-americanas que tanto põe a nu o calor e o gosto pela vida que lhe corre nas veias latinas, como deixa-se envolver na melancolia que frio do norte da Europa lhe provoca... dois lados opostos na mesma folha...
O formato Folk outonal de José não revoluciona o que que seja, mas muitas das vezes não necessitamos de ser reaccionários para fazer valer a nossa mensagem e deixarmos-nos envolver pela sensibilidade de uma música que procura embalar a alma nas noites frias que se avisinham...

DEVENDRA BANHART "CRIPPLE CROW"
"Banhart adoptou uma abordagem comunal e neo-hippie da folk, o que para todos os efeitos vai ao encontro da tradição social da mesma. Quando não organiza compilações, como foi o caso de "Golden Apples of the Sun", junta nos seus projectos uma mão-cheia de colaboradores, de tal maneira que os trabalhos em seu nome já não lhe são exclusivos. É o que acontece com "Cripple Crow", em cuja capa, aliás, o encontramos misturado com uma multidão de gente - lá está ele, com a sua barba à guru indiano e os braços abertos, assumindo a persona do corvo aleijado de que se fala no título. Na foto estão os seus amigos músicos, que apenas identifica carinhosamente como "the family" - uma referência é a "cover art" de "The Hangman's Beautiful Daughter", da Incredible String Band, outra o clássico "Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band", dos Beatles, tema, aliás, da canção "The Beatles". Muitos desses amigos são índios ou têm sangue nativo, ou não estivesse o trovador a proceder a um regresso à matriz da América, buscando uma origem que ultrapassa a sua própria linhagem étnica. Ainda assim, alguns temas são cantados em Espanhol, o que se explica pelo facto de Devendra Banhart ter passado a infância na Venezuela. No estúdio, estiveram com ele Andy Cabic (Vetiver), Noah Georgeson, Thom Monohan e membros dos Currituck Co, dos Espers, dos Yume Bitsu, dos The Blow, dos Feathers e das CocoRosie. Para quem se identifica como cantor folk e anda com companhias destas (as ocoRosie, por exemplo, são uma estranha mistura de new folk e hip-hop/soul, cantados à maneira de Billie Holliday), surpreende o pendor rock psicadélico do álbum. Muito retro, por sinal, remetendo-nos para os anos 1960 e 70, inclusive com o surgimento aqui ou ali de um sitar. Devendra não mudou propriamente de rumo, alargou foi o seu plano de visão. Gostamos das consequências." In ANANANA 23-09-05 http://www.ananana.pt/ www.younggodrecords.com/Artists/DevendraBanhart www.xlrecordings.com/devendrabanhart

DJ SHADOW "ENTRODUCING....." (DELUXE EDITION 2005 - ISLAND) (ED. ORIGINAL 1996 - MO-WAX)
A reedição de um dos discos mais importantes e estimulantes de sempre do Hip Hop. A manipulação sonora com o recurso ao sampler e ao turntabilism que hoje em dia já é considerado uma escola. Nu-school vs Old-school envolto por um manto melodioso abstracto... Um clássico!
www.djshadow.com

VÁRIOS ARTISTAS "KEEPINTIME: A LIVE RECORDING" DVD/CD
Um documento visual e sonoro impressionante que retrata uma experiência única que une velhos bateristas à mais recente geração de Dj. Um conjunto de Jam Sessions onde se cruza a sabedoria de drummer's e a habilidade do Turntablism actual...
http://www.ninjatune.net/
http://www.keepintime.com/
 
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ARQUIVO 2005


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    DISCO DO ANO 2005
    Fat Freddy's Drop: "Based On A True Story"
  • O álbum de estreia do colectivo neo-zelandês reforça definitivamente a personalidade sonora do projecto e em simultâneo realça a dinâmica adquirida em palco, criando momentos edílicos, envolvendo os ouvintes na deliciosa fusão entre o Reggae, Dub, Jazz e a Soul. O som é quente criando um universo onde as histórias de amor junto à praia enriquecem o nosso imaginário; um aroma doce de um perfume desconhecido paira no ar e confunde os sentidos deixando-nos à beira de um ataque romântico onde o calor conduz à nudez inocente. O amor solta-se! A música cumpre uma vez mais a sua missão enquanto arte... dar prazer a quem a ouve. Aqui respira-se a liberdade criativa de um colectivo que soube almejar a sabedoria dos velhos de Kingston e a capacidade de sintetizar a matriz cultural da música negra, refrescando-a com uma visão futurista, no entanto eloquente, da música popular. Essencial!


    MÚSICAS 2005
  • GB "SIMPLY SO" ft STEVE SPACEK (SA-RA REMIX)
  • AMERIE "ONE THING"
  • MISSY ELIOTT "ON,ON"
  • FLANGER "FUNERAL MARCH"
  • BLACKAI "AFRO SPACE"
  • STEREOTYP meets AL HACA "BLAZE N' COOK" (PETER KRUDER REMIX)
  • ROMAN FLUGEL "GETS NOCH?"
  • THIVERY CORPORATION "MARCHING THE HATE MACHINE"
  • OUTLINES "JUST A LITTLE LOVIN"
  • MARKUS KIENZEL "LIKE A GHOST"
  • KING BRITT "KING'S ON TIME MIX" (KEEPINTIME)
  • GORILLAZ "DARE"
  • JOSÉ GONZALEZ "HINTS"
  • BOOZOO BAJOU "TAKE IT SLOW"
  • ROYKSOPP "ONLY THIS MOMENT"
  • JUKKA ESKOLA "GO TIME"
  • STEVE SPACEK "DOLLAR"
  • DAMIEN MARLEY "ROAD TO ZION"
  • KELLY POLLAR "MY BEAUTY IN THE MOON"
  • DWIGHT TRIBLE & THE LIFE FORCE TRIO "WAVES OF INFINITE HARMONY"
  • PRINS THOMAS "GOETTSCHING"
  • RECLOOSE "DUST"
  • POVO "UAM UAM"
  • THE FIVE CORNERS QUINTET "THREE CORNERS"
  • STROMBA "TICKLE ME DUB"
  • MICATONE "NOMAD"
  • DAFT PUNK "TECNOLOGIC" (VITALIC REMIX)
  • LINDSTROM "I FEEL SPACE"


    BLOGS DA CONCORRÊNCIA
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    "Em geral, sempre que há algo melhor, há também algo óptimo. Mas, dado que entre as coisas que existem, uma é melhor que outra, há também uma coisa óptima, e esta seria a divina. "
    Aristótles


    "De todas as artes que conseguem crescer no solo de uma dada cultura, a música é a última das plantas a germinar, talvez porque é a mais interiorizada, e, por conseguinte, aquela cuja época vem mais tarde -é o Outono e a desfloração dessa cultura. A alma da Idade Média cristã só encontrou a sua expressão mais acabada na arte dos mestres holandeses: a arquitectura musical por eles elaborada é a irmã póstuma, não obstante legítima e igual em direitos, da arte gótica. Foi só na música de Haendel que tomou forma musical aquilo que de melhor havia na alma de Lutero e dos seus, esse acento judaico-heróico que deu à Reforma um certo ar de grandeza: o Antigo Testamento faz música, o novo não. Mozart, o primeiro, restituiu em metal soante todas as aquisições do século de Luís XIV e a arte de um Racine e de um Claude Lorrain. É na música de Beethoven e de Rossini que a melodiosamente respira o século de XVIII, o século do devaneio, do ideal destruído, da fugaz felicidade. Toda a verdadeira música, toda a música original, é um canto do cisne. Talvez a nossa música moderna, seja qual for o seu império, e a sua tirania, tenha diante de si apenas um curto espaço de tempo, porque surgiu de uma cultura cujo solo minado rapidamente se afunda, de uma cultura que em breve será absorvida."
    Friedrich Nietzsche In Nietzsche Contra Wagner.


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